quarta-feira, 24 de setembro de 2008

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Brasil é o 3º país mais religioso entre os jovens, diz pesquisa

Um levantamento realizado em 21 países constatou que o Brasil possui a terceira população jovem mais religiosa do mundo. Segundo pesquisa do instituto alemão Bertelsmann Stiftung, 65% dos jovens brasileiros são considerados "profundamente religiosos".
Empatado com a Indonésia e o Marrocos --países de maioria muçulmana--, o Brasil fica atrás apenas da Nigéria e da Guatemala, primeiro e segundo lugar, respectivamente. Um total de 21 mil jovens entre 18 a 29 anos participaram da pesquisa alemã.

Veja ranking dos jovens mais religiosos do mundo.

Em âmbito global, mais de quatro entre cada cinco jovens (85%) são religiosos, e quase metade (44%) são profundamente religiosos.

Apenas 13% não acreditam em Deus ou não têm religião, de acordo com a sondagem.

No Brasil, 65% dos jovens se declaram profundamente religiosos, 30% se dizem religiosos e 4% afirmam não ter religião. Apesar de 74% dos brasileiros declararem que rezam diariamente, somente 35% disseram viver de acordo com os preceitos religiosos.

Veja gráfico sobre hábito de rezar entre jovens e gráfico sobre conduta religiosa.

Plano intelectual

"A pesquisa mostra que só um terço dos jovens (brasileiros) se dizem convencidos de que devem seguir os mandamentos de sua religião, ou que estão dispostos a obedecer os mandamentos religiosos", afirmou o sociólogo Flávio Pierucci à Folha Online.

"Primeiramente, é um traço muito moderno da juventude brasileira, que mostra ser mais moderna do que parece", disse ele, professor titular de sociologia da FFLCH (Ciências Sociais) da USP.

"A tendência é reduzir a religião a uma coleção de crenças", afirma Pierucci. Para o professor, quando se reduz a religião "a uma simples adesão intelectual, começa-se a fazer misturas (de religiões)".

"Não significa, necessariamente, que se está sendo orientado por aquelas idéias religiosas", explica Pierucci. "A vida pode ser orientada por outras coisas, por uma relação mais pragmática com a realidade --mesmo na vida em família, há muito mais um processo de negociação do que se deve fazer do que uma postura de abaixar a cabeça e dizer, 'Deus mandou eu fazer assim, vou fazer assim'."

Sobre o número de não-religiosos, o sociólogo afirma que o grupo é uma parcela crescente da população. "O censo de 2000 apontava que 7,3% da população brasileira se declaravam sem religião, o que já representou um crescimento bastante grande em relação ao censo de 1991, que apontava pouco mais de 2%."

"Mercado religioso"

No entanto, ele afirma que se declarar sem religião não significa necessariamente que a pessoa não tem fé. "Pode ser que, em outro momento do questionário, ao ser questionada se acredita em Deus, ela irá dizer que acredita", explica ele. "A tendência é as pessoas não terem mais problema em dizer que não têm religião, embora acreditem em Deus e cheguem a rezar nos momentos de fraqueza, perigo ou desamparo."

Mais de 90% dos brasileiros dizem acreditar em Deus e em vida após a morte, de acordo com o estudo alemão.

Quanto ao esforço da Igreja Católica para arregimentar novos seminaristas, apesar da alta religiosidade no mundo, Pierucci afirma que o fato se deve à "diversidade religiosa atual". Segundo o sociólogo, com a liberdade religiosa, incrementa-se o que a sociologia chama de "mercado concorrencial religioso".

"Cada vez aparecem novas religiões ou modificações das já existentes, que vão proliferando. Cria-se, então, um ambiente muito cheio de oferta religiosa", diz ele. "Um jovem acha na internet qualquer coisa --ele pode entrar em um site islâmico, pode ter curiosidade sobre a cientologia, a religião do ator Tom Cruise, ele pode se informar sobre uma seita como o Santo Daime. A religião fica mais viva", afirma. "Em vez de a crença morrer, ela se multiplica de diferentes formas. As maiorias religiosas vão sendo predadas", analisa.

Contradições

Para Pierucci, a religião representa, nas vidas das pessoas, uma "pequena oração diária, no máximo, um ou dois minutos".

"Então você tem uma situação aparentemente contraditória --uma população muito religiosa, como a brasileira, que gosta de religião e a respeita, a pesquisa mostra bem isso", afirma o sociólogo. "A sociedade brasileira valoriza a religião, mas não segue nenhuma, porque elas costumam ser muito exigentes. Há apenas uma minoria que segue, o resto não tem nem tempo para isso."

No ranking criado pelo instituto alemão, a Rússia aparece como o país onde os jovens são os menos religiosos. Segundo o levantamento, apenas em Israel a juventude é mais religiosa que a população adulta.

De acordo com Matthias Jäger, responsável pelo projeto "O Papel da Religião na Sociedade Moderna", do instituto alemão, a pesquisa "desfaz a noção de que decrescentes níveis de religiosidade são inversamente proporcionais ao progresso econômico, social e cultural".

Para o pesquisador, a principal conclusão da pesquisa é a de que "a religião desempenha um papel muito mais importante internacionalmente do que geralmente se assume de uma perspectiva ocidental e européia".

"A Europa é a exceção à regra", afirmou o pesquisador, por e-mail.


Oficina21
Página publicada em: 3/9/2008
Folha Online (Fernando Serpone)

Sexualidade na juventude

Entrevista de Gina Strozzi concedida para a Revista Juventud Esperta, da Comunidade de Jesus em Boston (EUA).

JE - O sexo na sociedade para ser debatido precisa ser corrompido. Só é possível falar de sexo sem constrangimento se o seu sentido for adulterado? Gina Strozzi - Talvez sua pergunta sintetize os resultados desta liberdade intoxicante que todos nos somos vítimas. Quando você fala de sexo corrompido, isso me parece um sexo afastado da condição humana. Constrangimento frente a algo natural não existe, há constrangimento frente ao sexo porque ele foi desnaturalizado, e pior, foi desumanizado. Corrompemos o sexo quando não respeitamos a inocência da infância e aceitamos a perversidade da mídia; quando acreditamos nas performances de atletas sexuais nos filmes de Hollywood, e adoecemos por isso, por não conseguirmos ser como eles; ou até por confiarmos que ninguém em nenhuma relação sem preservativo pegou AIDS ou engravidou; ou mesmo, quando agimos com naturalidade diante de editoriais da Marie Clair ao nos perguntar se já fizemos sexo a 3, ou se já gravamos um filme pornô. É preocupante a nossa falta de constrangimento, pois isso aponta para um homem nu e carente, ameaçado sem perceber pela corrupção e fragilidade ética. Em tempos onde o sexo fez seu total “strip-tease”, a sexualidade se dá como saturada fazendo nossas consciências se acomodarem frente ao abismo da imoralidade. JE - Qual o limite da discussão sobre sexo no eixo eclesiástico? Até que ponto a igreja deve influenciar no conceito propriamente dito? Gina Strozzi - Cada instituição tem sua função, têm seus papéis e responsabilidades. A função da igreja não é ensinar sobre sexo, a priori, sua missão na Terra é levar pessoas a serem salvas pela ação redentora de Jesus Cristo. Quero dizer que tratar de sexo não é dever primeiro da igreja, mas isso não absolve a igreja de se posicionar e manifestar-se diante às inquietações dos seus membros. Sabemos que a igreja está evoluindo no trato das questões pessoais e íntimas.Nitidamente percebemos a preocupação de líderes para com a problemática da gravidez na adolescência, da pornografia, do erotismo infantil, das novas formas de relacionamento ‘relâmpago’ entre os jovens, das discussões sobre a homossexualidade e outras modalidades de relacionamento. Isso aponta para púlpitos que dialogam e tentam encontrar respostas para estas questões. Na verdade os teólogos e pastores são os responsáveis por tratar destas situações à luz da Palavra de Deus, as igrejas necessitam de uma hermeneutização consciente e que dê conta de acolher, tratar e proporcionar vida ao rebanho. JE - Com quantos anos uma pessoa passa a pensar em sexo? A partir de que idade os pais devem sentar com seus filhos e falar sobre o assunto? Gina Strozzi - Bem cedo, em torno de 2 a 3 anos, as crianças percebem as diferenças sexuais através das roupas e dos brinquedos. Com 4 anos se estabelecem os papéis de gênero (os comportamentos de menino e de menina), processa-se a identificação sexual. A criança brinca de família e de casamento. Neste caminhar, muito importante na educação sexual é respeitar a curiosidade da criança, a criança não deve ser punida ou ter respostas evasivas diante de uma dúvida ou inquietação. Fazer ‘segredos’ sobre sexo gera na criança desconfiança e suspeitas. Os pais devem ter uma postura onde as queixas, as dúvidas e as curiosidades sejam autorizadas. Crianças seguras falam de forma transparente com os pais, se mostram e repartem as angústias normais do desenvolvimento psico-sexual. Não há uma idade pré-estabelecida pra se conversar sobre sexo, se entendemos que desde que nascemos somos seres sexuais, compreenderemos que a sexualidade é algo amplo em nós, ela não se restringe ao ato sexual, portanto, mais importante do que se falar sobre sexo é ensinar e permitir a percepção da sexualidade como normal e natural nas nossas vidas. Muitos pais se sentem tímidos e sem recursos para falar com seus filhos sobre a sexualidade, até porque muitos não conseguem lidar com a sua própria vida sexual, então eu sugiro que dêem o ‘colo’, dêem afeto, aproximem seus filhos de modo que se crie sensibilidade e intimidade o suficiente para que eles possam vivenciar com tranqüilidade o cotidiano das tensões, das descobertas e conquistas de uma sexualidade sadia. JE - Crê que a AIDS impediu maior libertinagem sexual? Gina Strozzi - Creio que a AIDS sacudiu implacavelmente os lugares de maior privacidade, colocando cada pessoa diante da sua sexualidade, do relacionamento com o outro, da intimidade e da sua individualidade. A AIDS colocou em jogo o grande paradoxo do sexo na modernidade: vivemos em total permissividade, porém ameaçados pela infelicidade, doença e morte! Estamos libertos, porém sós!!! Aliada a esta questão da solidão e medo de contágio, onde a hipótese mais segura é a da auto-satisfação pelo sexo virtual, surge também o apelo ao que chamamos de ‘sexo-de-auto-risco’. Nesta modalidade se torna altamente libidinoso um sexo mais ousado onde o perigo de contaminação torna o sujeito mais excitado. Este é o inferno moderno que a AIDS nos legou. JE - Que efeitos negativos a mídia trouxe para o assunto? Gina Strozzi - Mídia é um caso sério. Geralmente os meios midiáticos propõem um modelo de comportamento sexual que causam sofrimento e inferioridade. A mídia massifica, uniformiza e desconsidera as subjetividades e particularidades da sexualidade humana. As revistas masculinas e femininas ditaram a mentira de que “pênis grande é o que conta” e traumatizaram muitos homens.A Tv ultrapassou todos os limites quanto à violência e vulgaridade, vemos ‘mascaradas’ de todo o tipo, seminuas e insinuantes testando o nosso limiar de tolerância moral, principalmente frente às crianças, que se tornam alvos de hostis e brutais exposições. JE - Nos EUA são proibidas cenas de nudismo, revistas com exposições explícitas nas bancas e palavrões na tv aberta. Mas existe uma malicia dissimulada em quase todos os programas. Crê que há beneficio nessa abordagem? Gina Strozzi - A sexualidade é formatada em nós por gestos, cheiros, fantasias, símbolos, códigos invisíveis que encontram sentido no imaginário de qualquer pessoa, seja criança, jovem, adulto ou idoso. Assim, ver a foto explicita ou ser seduzido e induzido a desejar algo erótico sem uma imagem, influencia de igual forma o comportamento humano. Mas, diante disso, podemos ainda considerar o que a psicanálise nos ajudou a compreender: que o desejo se dá e se sustenta principalmente na falta do objeto, o que significa dizer que esta forma mais velada de erotismo talvez excite mais as mentes e corpos do que a exposição freqüente do nu nas bancas de revistas.JE - Que tipo de ajuda pode conseguir a pessoa que usa o sexo de maneira compulsiva? Gina Strozzi - O compulsivo não sente prazer, segue sempre um ritual, vê o sexo como uma obrigação que impõem a si próprio. O compulsivo tem o sexo como uma válvula de escape da ansiedade, faz sexo pra sentir alívio e não pra se satisfazer. Não devemos confundir a compulsão por sexo com o impulso pelo sexo. A pessoa com forte impulso por sexo, geralmente necessita de excessiva atividade sexual e obtém prazer nos atos. A ajuda para o compulsivo pode ser encontrada na terapia aliada a um tratamento medicamentoso, por exemplo.JE – Como lida com o fato de ser Sexóloga e Cristã ao mesmo tempo? Gina Strozzi - Primeiro, quero dizer que não há contradições. Qualquer cristão tem sexualidade e faz sexo. Eu sou uma especialista deste tipo de comportamento. Tento ajudar as pessoas nesta área. A tua pergunta de certa forma carrega um pouco do preconceito contido no imaginário das pessoas, de que sexo e cristianismo são incompatíveis, e todo o meu trabalho é tentar agregar à pessoa humana sua integralidade, considerando a cultura, a religião, a educação e os preceitos familiares, entre outras coisas como instituidores da sexualidade JE - Mas nunca sofreu algum tipo de preconceito? Gina Strozzi - Geralmente falar sobre sexo suscita no imaginário das pessoas algumas fantasias do que é uma Sexóloga, ou de que como é alguém que vai tratar este assunto. Pessoalmente, causo alguma estranheza nas pessoas sim, mas não que sofra preconceito porque acredito que o preconceito envolve ações práticas ou simbólicas contra um sujeito, e no meu caso isso nunca ocorreu. O que acontece é um 'susto', porque ou sou nova demais, ou porque as pessoas acham que eu deveria ter muita prática no assunto pra poder ensinar sobre isso, e, no que toca a questão da experiência isso é bem complicado. Até porque, essa especialização como área médica é nova no Brasil, o tratamento profissional para com a sexualidade é recente, e tanto a Medicina, como a Sociologia, a Psicologia e a Antropologia se concentram sobre questões sexuais, principalmente após a epidemia da AIDS. JE - Sem jargões evangélicos, quais as vantagens do sexo dentro do casamento? Gina Strozzi - É a vantagem de ter o sexo como algo que faz parte de um relacionamento, de um vinculo, de um concerto que envolve direitos, deveres e responsabilidades. Sexo num relacionamento denota a noção e o sentimento de segurança e de pertença. Em tempos de convívio destruído, onde as pessoas estão fadigadas pelos descartes e troca-troca de casais, e onde o 'amo você' significa 'te amo até aparecer um melhor'... sexo no casamento inspira permanência, memória, lembranças e por isso insisto no sentimento de pertença e segurança que ele ainda pode nos oferecer. As pessoas são seres que almejam os laços, os vínculos, as fotos no álbum pra mostrar pros netos. Relação sexual no casamento tem proximidade com esta figura, com a reprodução das nossas histórias. JE - Existe alguma relação entre a maneira que uma pessoa pensa em sexo e seu caráter? Gina Strozzi - Somos seres complexos, nosso caráter pode ser instituído pela família, pelas leis que aprendemos e escolhemos para respeitar, pela religião que seguimos e cremos, pela educação que tivemos no colégio, pelos valores que emprestamos dos nossos amigos e grupos, enfim assim como somos seres que ‘somam’, também somos seres que ‘abstraem’, somos pessoas que rejeitamos, abrimos mão, e não nos apropriamos do que não julgamos necessários a nós. De igual forma ocorre com a sexualidade, incluímos a ela o que julgamos bem ou preterimos o que é mal. Obviamente que não me refiro aos transtornos sexuais (como a pedofilia, o sado-masoquismo, etc), pois nestes, há um rompimento não de caráter, mas de aparelho psíquico, há uma defasagem na vida afetivo-emocional do individuo. JE - Você acredita que a igreja católica tenha influenciado de maneira negativa os valores do sexo proibindo o casamento de padres e freiras? Gina Strozzi - Vejo que a repressão é sempre um mau caminho. Quando reprimimos algo tão forte quanto é a sexualidade, geralmente acabamos em dois lugares: na doença ou na clandestinidade, ou seja, “vou procurar um lugar onde ninguém me vê pra poder fazer o que não me permitem”. Agora, falando especificamente do sacerdócio, acredito sim que existem pessoas separadas pra esta função e portadoras desta vocação. Porém, talvez o maior mal que um sistema possa fazer às pessoas é privá-las da satisfação de uma necessidade, e não estou falando de sexo por sexo e sim de sexo por amor, de sexo como forma de carinho, como forma de relacionamento. É importante entendermos que as religiões, principalmente as ocidentais, são um tanto quanto restritivas em matéria de sexo (dentre outras coisas), porque as interdições fazem parte da natureza das religiões para resguardar a atenção dos indivíduos em direção ao sagrado e isto em si não é mal, e ainda mais do que isso, os interditos são impostos a fim de se garantir não só a atenção, mas a qualidade da atenção (santidade e pureza de vida no culto) que será dedicada a Deus. Portanto, o mal não está nas restrições à sexualidade, mas à proibição arbitrária, refletida na negação e repressão total sobre um alvo tão misterioso e imponderável como é a sexualidade humana. JE - Sempre se fala de sexo na igreja de maneira superficial e em algumas o assunto sexo é quase proibido. Por que é tão difícil se falar de sexo? Gina Strozzi - Falar sobre sexo é difícil porque se encosta à noção de pecado. Sabemos que muitas vezes os “piores” pecados na igreja estavam agregados às idéias de adultério, gravidez indesejada, promiscuidade no namoro, homossexualidade e etc. Assim, todo o esforço hoje em se perceber a importância de se tratar este assunto fica meio que contaminado por esta idéia do pecado. JE - Quando o sexo passa a ser pecado?Gina Strozzi - Quando o sexo lhe afastar de Deus.

Oficina 21
Página publicada em: 3/9/2008
Clécio Almeida

Pescando estudantes para Deus

Decidi que iria trabalhar especificamente somente com não-cristãos, uma vez que observei, de pronto, que a maioria dos estudantes cristãos que encontrava, estavam preocupados em “tomar posse daquela benção que Deus já tinha preparado para eles desde a fundação dos séculos”.
Em 2000, cheguei na universidade e comecei a descobrir um mundo novo. Depois de quase 10 anos de envolvimento com a igreja local e seus afazeres internos, lidando com todas as classes de pessoas, desde pessoas simples sem instrução formal até universitários, mas sem focalizar um grupo especificamente, caí no campus.
Decidi que iria trabalhar especificamente somente com não-cristãos, uma vez que observei, de pronto, que a maioria dos estudantes cristãos que encontrava, estavam preocupados em “tomar posse daquela benção que Deus já tinha preparado para eles desde a fundação dos séculos”.
Foi assim que iniciei o trabalho de fazer amizades com os estudantes e me transformei em um deles, foi um aprendizado difícil mas muito interessante.Contudo comecei a sofrer da síndrome de Elias, e pensar que só eu ali “não havia dobrado os meus joelhos a baal” e que era o portador único da verdade de Deus naquele lugar. Foi aí que o processo começou a tomar outro rumo do que eu havia anteriormente planejado. Comecei a conhecer alguns cristãos mais comprometidos e posteriormente conheci o grupo em que se reuniam. Daquele contato surgiu a notícia de que havia outros grupos como aquele, e isso me interessou, acabei por conhecê-los de uma maneira muito singular e descobri algo interessante; todos sofriam da mesma síndrome de Elias. Disse ao Senhor: “ se o Senhor está querendo que me envolva também com esses crentes, tudo bem, vou ver no que dá!”A essa altura dos acontecimentos, fiz uma parceria com a Convenção Batista do Estado de São Paulo e, em julho de 2003, ela passou a contribuir com parte de meu sustento, dando-me liberdade para levantar o restante junto a outras igrejas via PAM (Plano de Adoção Missionária).
A primeira igreja a se interessar pela parceria foi a PIB de Campo Limpo Paulista, pr Celso Fernandes, depois a Igreja Batista Memorial de São Paulo, pr Eduardo Godoy, Igreja Batista do Parque, pr Roberto Tadeu Pimentel, First Baptist Church of Fayetteville, pr Stephen A. Moore e recentemente, a PIB de São José dos Campos, pr Carlito e a Igreja Batista de Campos Elíseos, pr Lamarque.
Ao final do ano de 2003 e início de 2004 fizemos uma parceria direta por um ano com o TRUSTEAM, ministério da Southern Baptist Convention para estudantes universitários, pr John Marshall, criando no final de 2004 a Organização Toca do Estudante e estabelecendo uma parceria Toca-TRUSTEAM, A partir de então, colocamos no ar o site da organização: www.tocadoestudante.org.
Nossa visão é simples: Estabelecer uma Comunidade de Fé entre universitários, onde o necessitado encontre ajuda e o aflito encontre conforto, que sirva de “cidade de refúgio” onde a mensagem anunciada seja a mesma que Cristo anunciou, mas dita de maneira relevante ao estudante para que ele possa entender e responder adequadamente, ou seja, estabelecendo um relacionamento de amizade com Deus. Um lugar onde haja celebrações comunitárias e também seja um Centro de Treinamento para o avanço da mensagem de Cristo a todos os cantos do mundo.

Oficina 21
Página publicada em: 3/9/2008
Libério (Toca do Estudante)

Temor de Deus e medo da sexualidade

Procriar e perpetuar é uma questão mais sutil do que a puramente biológica e social

A sexualidade e a religião são duas das principais preocupações da humanidade. Freqüentemente inscritas em colunas opostas em que se arrolam respectivamente também o físico e o espiritual, o temporário e o eterno, parecem fixar territórios diferentes e bem determinados quando, no entanto, estão constantemente a interseccionar as respectivas fronteiras. A contraposição entre corpo e alma é bem antiga; aqui, contudo, neste ensaio, minha intenção é de aproximar os dois conceitos, pois acredito que ambos sejam locus tanto da religião quanto da sexualidade – como também da gênese dos medos que as circundam.
O percurso de um discurso inteligível para enfrentar a longa via de compreensão dessa dupla temática na cultura ocidental poderia iniciar-se em Sócrates, que caracteriza a alma como psique: a capacidade de entender e de querer do homem. Em seguida, Platão altera esse conceito e o repensa de modo profundo em termos ontológicos. Platão representa e apresenta o corpo como “túmulo” e “prisão” da alma; todavia, permanece convencido de que subsiste diferença insuperável entre corpo e alma, pois alma torna-se privada de sentido no momento em que é ligada a ele. Afirma que “o corpo enche-nos de amores, desejos, receios e toda a espécie de fantasias e grandes disparates; sua presença impede a alma de atingir a verdade”.
A doutrina cristã re-significou a questão dessa dicotomia de maneira ontológica, metafísica e teológica, pois apresentou o corpo não mais como um “peso” ou “tronco” para a alma, mas por ela sendo consagrado e até santificado. Mas, antes ainda, as antigas atitudes hebraicas em relação ao sexo eram naturalistas e religiosas no sentido de as aceitar como criações divinas. No Antigo Testamento, a vida sexual era celebrada, símbolo que sempre foi da atividade criadora divina em toda mística judaica, especialmente em páginas exclusivamente devotadas a esse tema na literatura sagrada, como o livro de Cantares.
Talvez as passagens mais afastadas desta sexualidade enquanto natureza criada do judaísmo e que mais desconfiguram o que naturalmente se conhecia da sexualidade – muito embora saibamos que os muitos interditos em Levítico (e outros) a rigor se impuseram na prática do cotidiano do judeu para a feitura de uma teologia mais orgânica no que se refere ao corpo – sejam as encontradas na concepção paulina (I Coríntios 7), segundo a qual estabelece-se a idéia de que a vida sexual é um empecilho, algo que atrapalha a vida devocional. Isso criou um ponto de vista absolutamente novo para a questão: abolindo-se a meta prioritária da vida sexual, a saber, a procriação, restava apenas que a vida sexual era uma espécie de mal necessário (porquanto distrativo da vida devocional) para evitar o pecado da fornicação. Colocando em termos simples: o melhor é servir a Deus exclusivamente; sexo é algo que ocupa as pessoas e as faz distrair-se da atividade santa; uma vida de privação sexual acaba sofrendo muita pressão que pode resultar em pecado.
Esse ponto de vista deu origem não apenas à lógica celibatária do movimento monástico, mas também ao ascetismo do desprezo ao corpo e sua subjugação não apenas através de rituais de mortificação como hábitos que durante muito tempo se conservaram de privar-se de banhos (“A pureza do corpo e das vestes significa a impureza da alma”, segundo santa Paula). Eram, pois, vistos como tão mais virtuosos aqueles que mais faziam seu corpo padecer de abandono e repressão.
A maneira como o puritanismo percorreu os séculos (do jansenismo ao vitorianismo, ao YMCA) alojado no seio das práticas das mais diversas orientações doutrinárias dá bem a noção do quanto essa idéia é forte, especialmente por ser tão física: a sujeição do corpo, afinal, parece a todos mais facilmente identificável do que o domínio sobre a mente, e, portanto, parece um caminho mais praticável. Vêem-se as marcas no corpo, sente-se a dor física: as provas da fidelidade, portanto, estão expostas aos olhos e perceptíveis pelos sentidos. Parece ao fiel uma maneira mais concreta de tentar convencer a si mesmo de que está fazendo a sua parte no combate ao pecado que o tenta.
Nesse quadro, o medo da sexualidade é, portanto, advindo do medo do pecado – inspirado pelo temor de Deus –, estando assim tão fortemente identificada a sexualidade com o pecado por conta de um preciso momento em que se dissociou da vida sexual a finalidade procriadora. O catolicismo sempre advogou que a finalidade do sexo é senão a procriadora, e nisso tudo não se pode dizer que não haja fundamentos. Mas a verdade é que esses fundamentos não esgotam a questão, pois o desejo de perpetuação, de procriação e, portanto, de imortalidade, são, sim, o fundamento do sexo. No entanto, o que se deseja procriar e perpetuar já é uma questão mais sutil do que a puramente biológica e social.
Pois a sexualidade não se deixa reduzir a um princípio. Seu reino é o da singularidade irrepetível; escapa continuamente à razão e constitui um domínio oscilante, regido pela exceção e pelo capricho. Essa dificuldade não a detém: se é incompreensível, não é imensurável; se não podemos defini-la, podemos descrevê-la. Procurávamos uma explicação, teremos uma geografia, onde se encontram corpo e alma, medos e temores. O corpo e a alma são ambos território do desejo (o desejo do corpo pelo além-de-si e a plenitude da vida física, o desejo da alma pelo além e a plenitude da vida espiritual) e também dos medos (o medo físico da dor e o temor espiritual da danação eterna).
Se é verdade que o equivocado temor de Deus num momento crucial do desenvolvimento do cristianismo reduziu o amor à descontinuidade dos seres que possuem uma alma, também é verdade que essa alma é a mesma sede do impulso da continuidade presente da mais alta expressão do amor: a sexualidade. Se estamos somente hoje a separar com nossos dedos tantas vezes ainda débeis quais foram os trigos e quais os joios que nesses férteis e quantas vezes indivisíveis territórios floresceram, podemos escolher se nos detemos a contabilizar essa seara ou se nos empenhamos em semear ainda mais do amor que venha a, indistintamente, frutificar para as gerações futuras.
Usina 21
Página publicada em: 3/9/2008
Gina Strozzi